Sentir com...
Miscelânea
de sentimentos, vazio que não se preenche. Saudade é algo que se sente muito e
se explica pouco. Difícil de traduzir, impossível não sentir. Lembro de um
velho professor da faculdade que dizia que só nós brasileiros sabíamos o que
era saudade, ou o real sentido da palavra. Sete letras que expressam coisas
boas e ruins de uma só vez, com uma só declaração e um montão de emoções.
Acho
que nasci para estar dividida. Nunca estou completa, falta sempre um pedaço,
uma metade, uma parte quase inteira. Se estou com uns sinto uma saudade
imensurável de outros e quanto estou com os outros, aqueles alguns me fazem uma
falta absurda. É como se meu porto não pudesse atracar dois ou mais navios ao
mesmo tempo, mesmo sendo ele tão grande quanto o de Cingapura.
Saudade
atormenta. Aperta o peito e nos faz rir e chorar. É uma enxurrada de lembranças
regada a prazeres, cheiros, toques e afeto. A Saudade atordoa. Nos deixa
paralisados, navegando em
memórias. Espera que não acaba, solidão que não termina.
Sentir Saudade é sentir sem ou com, é aguardar a chegada sem jamais desejar a
partida.
Pode
ser de alguém. Ou também de um lugar, cheiro e quem sabe ainda até de um gosto.
Usamos a expressão tão nossa para dizer que nos faz falta. E eu sinto falta de
tanta coisa, de tantos momentos, de diversas pessoas. Saudade é um buraco aberto
no peito, uma ferida sem remédio e sem curativo para estancar a dor. E mesmo
que tivessem solução, acredito que preferiria continuar sentindo Saudade a
curá-la. Pois com certeza uma vez curada me faria ainda mais falta.
Saudade
não é pretexto, desculpa ou argumento. Não tem gênero mas tem inúmeros graus. É
o meu verbo, meu substantivo, meu artigo. Neste momento meu velho professor
gritaria: Saudade é uma palavra sem plural! E eu diria: Sim! Ela é singular e
multifuncional, une tudo em suas sete letras e não precisa da oitava para
mostrar seu peso. Ela é solitária e me faz companhia todos os dias.
Estou
a sentir Saudade neste momento de coisas inexplicáveis. Sinto falta até mesmo
do que não vivi ou não senti. De quem não conheci e de coisas que não fiz. Mas
sentir falta não é o mesmo que sentir Saudade. A ausência, o estranhamento, o
vazio são parte de um todo complexo. Quero saciar os meus desejos e minhas
carências matando a saudade quanto estou perto, quanto estou com. Mas não sei
você, mas comigo acontece um efeito avassalador quanto encontro, chego e
recebo: A Saudade que eu mato aumenta na mesma proporção da presença. Ela nunca
acaba.
Cantada,
declamada, retratada. A maldita bentida Saudade é tema, lema e raiz. Não se faz
de rogada e chega sem ser convidada. Nunca parte. É encontro e despedida. Não
tem fim e por ser assim dificulta o meu ponto final. Como terminar esta
descrição se por falar em Saudade sinto ainda mais Saudade? Nada me preenche, nada lhe traduz..
Obs:
O dia 30 de janeiro é destinado no Brasil a Saudade. Até a miscelânea de
sentimentos humanos tem dia para ser comemorado.
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