sexta-feira, janeiro 6







Sentir com...

Miscelânea de sentimentos, vazio que não se preenche. Saudade é algo que se sente muito e se explica pouco. Difícil de traduzir, impossível não sentir. Lembro de um velho professor da faculdade que dizia que só nós brasileiros sabíamos o que era saudade, ou o real sentido da palavra. Sete letras que expressam coisas boas e ruins de uma só vez, com uma só declaração e um montão de emoções.

Acho que nasci para estar dividida. Nunca estou completa, falta sempre um pedaço, uma metade, uma parte quase inteira. Se estou com uns sinto uma saudade imensurável de outros e quanto estou com os outros, aqueles alguns me fazem uma falta absurda. É como se meu porto não pudesse atracar dois ou mais navios ao mesmo tempo, mesmo sendo ele tão grande quanto o de Cingapura.

Saudade atormenta. Aperta o peito e nos faz rir e chorar. É uma enxurrada de lembranças regada a prazeres, cheiros, toques e afeto. A Saudade atordoa. Nos deixa paralisados, navegando em memórias. Espera que não acaba, solidão que não termina. Sentir Saudade é sentir sem ou com, é aguardar a chegada sem jamais desejar a partida.

Pode ser de alguém. Ou também de um lugar, cheiro e quem sabe ainda até de um gosto. Usamos a expressão tão nossa para dizer que nos faz falta. E eu sinto falta de tanta coisa, de tantos momentos, de diversas pessoas. Saudade é um buraco aberto no peito, uma ferida sem remédio e sem curativo para estancar a dor. E mesmo que tivessem solução, acredito que preferiria continuar sentindo Saudade a curá-la. Pois com certeza uma vez curada me faria ainda mais falta.

Saudade não é pretexto, desculpa ou argumento. Não tem gênero mas tem inúmeros graus. É o meu verbo, meu substantivo, meu artigo. Neste momento meu velho professor gritaria: Saudade é uma palavra sem plural! E eu diria: Sim! Ela é singular e multifuncional, une tudo em suas sete letras e não precisa da oitava para mostrar seu peso. Ela é solitária e me faz companhia todos os dias.

Estou a sentir Saudade neste momento de coisas inexplicáveis. Sinto falta até mesmo do que não vivi ou não senti. De quem não conheci e de coisas que não fiz. Mas sentir falta não é o mesmo que sentir Saudade. A ausência, o estranhamento, o vazio são parte de um todo complexo. Quero saciar os meus desejos e minhas carências matando a saudade quanto estou perto, quanto estou com. Mas não sei você, mas comigo acontece um efeito avassalador quanto encontro, chego e recebo: A Saudade que eu mato aumenta na mesma proporção da presença. Ela nunca acaba.

Cantada, declamada, retratada. A maldita bentida Saudade é tema, lema e raiz. Não se faz de rogada e chega sem ser convidada. Nunca parte. É encontro e despedida. Não tem fim e por ser assim dificulta o meu ponto final. Como terminar esta descrição se por falar em Saudade sinto ainda mais Saudade?  Nada me preenche, nada lhe traduz..

Obs: O dia 30 de janeiro é destinado no Brasil a Saudade. Até a miscelânea de sentimentos humanos tem dia para ser comemorado.


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