sexta-feira, agosto 12

O que eu vivi conta quem eu sou...


Uma folha em branco, o teclado sob minhas mãos e muitas coisas para dizer. Há alguns dias completei seis anos de canudo na mão. Sempre imaginei que tanto tempo depois de sair da faculdade teria muito que contar experiências para repartir, momentos para lembrar. Com este tempo todo de graduação nas costas, imaginava estar já com outros canudos na estante, com um currículo invejável e o tempo corrido para escrever devaneios como este. Pois bem. O tempo é agora e eu, até poucos minutos atrás, me sentia vazia, como se nada tivesse sentido na questão profissional. É como se o tempo tivesse parado, estacionado. Para quem começou a faculdade em um movimento grandioso, estagiando em vários lugares ao mesmo tempo e estudando ainda à noite, imaginava bem mais de mim do que restou.

Investigando a vida daqueles que se formaram comigo, dos que passaram por mim na faculdade e dos que conheci por lá, percebi tanta coisa boa acontecendo na vida deles, a carreira em uma crescente, o orgulho do canudo na estante. Senti-me ainda menor. Não conseguia ver nada nas páginas do meu currículo. Pessoas em grandes veículos, pessoas em grandes posições, professores, doutores, gerentes. E eu mesmo? Nada. Abandonei o blog, passei a odiar o jornalismo, a comunicação, o mundo. Restou a jornalista amargurada tomando o bom e velho mate amargo.

Perambulando virtualmente entre as palavras dos outros, achei um texto que ajudou a abrir um pouco da janela, deixar o sol adentrar. Estimulou-me até a escrever novamente. Ela falava dos degraus que passou da importância que eles tiveram em cada nova etapa e de como eles formaram quem ela é agora. Como mais ou menos ela disse, “alguns podiam achar que eu estava descendo, mas em verdade estava subindo.” Abri meu arquivo, fiz umas buscas e me deparei com bons resultados. Com belas histórias, com ótimas pessoas. Ser jornalista é contar histórias? Eu acrescento que ser jornalista é também viver muitas histórias. E eu vivi tantas...

Ainda no período universitário pude passar por lugares que me deixaram marcas bonitas. Na Furg, passei pelo Museu de Comunicação, pela TV, pela Assessoria de Imprensa. Primeiro contato com o jornalismo, com a comunicação institucional. Lá fiz belas amizades que contaram histórias de vida, de superação de crescimento e claro, conhecimento. Como um pouco de Tecnologia não faz mal e eu adoro de paixão, trabalhar na Vetorial.Net foi gratificante. Lugar de gente simples, inteligente, criativa. Diversão aliada a empenho e trabalho. Finalizando o período acadêmico, passei muitas tardes de auxílio, projetos e pesquisas, no Laboratório de Redação.

Conhecer, contar e defender as histórias de trabalhadores é especial. Profissionais como eu, como você como todos os outros que por ai estão. Participar da luta justa por melhores salários, por direitos e deveres me fez crescer. Entender o movimento dos sindicalistas, ouvir histórias bonitas de vida, de luta. Um dos meus chefes, um metalúrgico humilde hoje é deputado federal. As pessoasquerem ter voz, os trabalhadores gostam de verem suas histórias em páginas de jornal e revistas. Mas antes de tudo gostam de serem ouvidos. E a classe bancária, outro sindicato por onde passei me ensinou muito, me deu olhar político, me deu senso de justiça.

As ondas radiofônicas levaram minha voz a distâncias incalculáveis. Contei histórias tristes, felizes. Noticiei bons resultados, momentos importantes, narrei acontecimentos. Meus, seus deles, delas...Fiz muitas perguntas, escutei muitos nãos, outros sim e cresci. Com as pessoas que passaram por mim e eu por elas. Mas foi na política, novamente, que as melhores histórias aconteceram. Em caminhadas nas vielas, em ruas escuras, em bairros pobres, em comunidades ricas. Foi nos bastidores de Campanha, de bandeiraços, de comícios e festas que recebi mais carinho de quem jamais imaginei.

Recebi abraços intermináveis recheados de desejos bons de pessoas que nunca tinha conhecido antes. Pessoas que conversavam sobre a vida, sobre o mundo, sobre o dia-a-dia, sobre política. Porque ela está em todos os locais e momentos. Em todos os dias. Sempre. Dos choros que mais me emocionaram. Das risadas que mais contagiaram. Foi à campanha que proporcionou conhecer um lado positivo do que há de mais polêmico no mundo. Um trabalho grandioso com resultado inesperado.

A vitória deu passaporte para o Poder Público. E na Assessoria da Prefeitura pude narrar momentos inesquecíveis para a comunidade. Contei conquistas importantes, vitórias diárias de um trabalho que almeja apenas proporcionar um melhor rumo na história pessoal de cada morador. Porém, não contei tantas outras histórias polêmicas que existe por trás da política. As injustiças, os puxões de tapetes, as ironias, os traidores. Não descrevi cenas que assisti, e talvez fossem elas que as pessoas mais gostariam de ler nas capas dos jornais. O lado ruim da polêmica política eu conheci no dia-a-dia dela, porque em muitos casos a politicagem fala alto, e tantas outras vezes não há meritocracia. Conheci o verdadeiro sentido da celebre frase “O poder corrompe”. Entretanto ele não muda as pessoas de bem. Quem nasce justo, com índole e sensatez, morre assim. O poder corrompe sim, mas os injustos e principalmente os gananciosos.

As histórias nos levam em frente. Os degraus altos ou baixos nos fazem subir, mesmo que em passos lentos. Imaginei muito. Sonhei demais. Desejei bastante. Mas não posso reclamar das histórias que vivi nos seis anos pós-universidade e os quatro que passei entre os corredores da UCPEL. São dez anos. E dez anos não são dez dias, dez meses ou dez horas. São dez anos. Talvez não tenha evoluído tanto quanto os outros. Não tenha ainda um currículo de dar inveja, uma carreira que eu sonhei com todas as forças do meu coração. Mas acúmulo dez anos de histórias, contos, vidas e sabedorias. Carinhos, pessoas, amigos e momentos felizes que nenhum currículo conta, que nenhum empregador pergunta. Ser jornalista é mais do que narrar e ouvir histórias. É ser parte dela.   

Um comentário:

  1. Oi querida.. adorei o texto. Te desejo todo o sucesso do mundo..em todos os aspectos da tua vida. É muito bom olhar para trás e ver tudo que já foi feito neh! E todas as novas possibilidades que a vida nos oferece.. Um beijo p vc.. Felicidades!

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